A recente decisão do Banco Central (BC) de autorizar as vendas do comércio eletrônico brasileiro para o exterior, por intermédio dos facilitadores de pagamento, deve contribuir para aumentar a participação de empresas de nicho no mercado internacional e forçar o amadurecimento do setor. Atualmente, o pagamento das compras de consumidores estrangeiros só pode ser feito diretamente ao site de e-commerce.
A resolução proposta pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 28 de julho deste ano, aprovada pelo BC, permite as transações apenas com facilitadoras que atuem no Brasil, e tem o intuito de proporcionar paridade entre os empreendedores do país e os de outras nações. Mas para Alexandre Umberti, diretor de marketing da e-bit (empresa especializada em números do setor), a medida não vem no melhor momento. “Qualquer oportunidade de abertura do mercado, principalmente que incentive a exportação, é super bem-vinda. Agora, o cenário não é tão bom assim, o real está muito valorizado, o que diminui a competitividade.”
Umberti acredita que a utilização dos facilitadores de pagamento para negociações internacionais irão beneficiar os pequenos e médios empresários. Ela também será positiva aos comerciantes de produtos mais customizados, que normalmente são procurados pelo diferencial com relação aos itens facilmente encontrados no país de origem dos consumidores em questão.
Mão de obra desqualificada
Há ainda outro entrave na expansão do comércio eletrônico para além do território nacional, que é o apagão de mão de obra especializada por qual o setor passa. Dados da 24ª edição do relatório Webshoppers, divulgados pela e-bit, em parceria com a E-commerce School e a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (camara-e.net), apontam para a dificuldade de 63% das lojas virtuais ativas no Brasil encontrarem profissionais que atendam a todas as necessidades das empresas: 79% dos candidatos não tinham as habilidades necessárias ao cargo.
Usar ferramentas que facilitem o acesso do público internacional é ainda outra necessidade da plataforma de empresas que pretendem expandir a atuação para outros países. Segundo Umberti, no mercado não existem profissionais preparados para essa demanda, que implica em desenvolver o código em outro idioma (o inglês, por exemplo) e em criar métodos mais sofisticados para o processo de pagamento da compra, como um sistema que faça a conversão para outra moeda do valor em Real do produto. “Tem empresas com caminhões parados porque não encontram motoristas. Imagine as dificuldades de encontrar desenvolvedores com fluência em outros idiomas?”, questiona.
Amadurecimento
Ainda é muito cedo para mensurar como a permissão de vendas pelos facilitadores irá impactar nas vendas virtuais. Mas certamente ela trará novos desafios aos empreendedores que pretendem aumentar as vendas baseados nessa resolução. O primeiro deles é a logística, o ponto mais delicado do comércio eletrônico nacional, que não consegue cumprir os prazos muito curtos combinados com os clientes. É importante ressaltar que os atrasos na entrega de produtos é o fator de maior insatisfação no e-commerce.
Será preciso ainda alinhar o processo local para que os produtos cheguem dentro do prazo aos pontos de exportação, como os aeroportos. Umberti lembra que a Amazon, por exemplo, tem um prazo de cerca de dez dias para a entrega. “Quem tem urgência no recebimento do produto, paga a mais por essa conveniência”, diz ele.
O e-commerce internacional está em uma fase mais adiantada perante a modalidade no Brasil, que começou mesmo a se consolidar no ano 2000, por isso é muito importante que a atuação em outras praias seja bem planejada. “A competitividade só estará em pé de igualdade em empresas que conheçam o setor e tenham um planejamento concreto. O maior erro do empresário é estar e se manter despreparado, subestimando os processos do comércio eletrônico”, finaliza o diretor comercial da JET Tecnologia em Comércio Eletrônico, Guilherme Lunardi.